Exame comprova situação de calamidade no ensino
São Paulo - Metade das crianças brasileiras que concluíram o 3º ano (antiga 2ª série) do ensino fundamental em escolas públicas e privadas não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino. Cerca de 44% dos alunos não têm os conhecimentos necessários em leitura; 46,6% em escrita e 57%, em matemática. Isso significa que, aos 8 anos, elas não entendem para que serve a pontuação ou o humor expresso em texto; não sabem ler horas e minutos em um relógio digital e calcular operações envolvendo intervalos de tempo; não identificam um polígono nem reconhecem centímetros como medida de comprimento.
"Esse panorama mostra que a exclusão na educação, que deveria servir como um mecanismo compensatório das diferenças socioeconômicas, começa desde cedo", afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação. "A grande desigualdade que tende a se agravar no ensino médio já se faz presente nos primeiros anos do fundamental. Isso é visível nas diferenças entre as regiões do País."
Os resultados descritos são da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) e foram divulgados ontem. A prova, conforme a reportagem adiantou em dezembro, é uma nova avaliação nacional organizada pelo Todos Pela Educação, Instituto Paulo Montenegro/Ibope, Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). É a primeira vez que são divulgados dados do nível de alfabetização das crianças ao final do ciclo.
A prova foi aplicada no começo deste ano para 6 mil alunos de 250 escolas apenas das capitais. Somente uma turma por unidade foi sorteada para participar e cada aluno resolveu 20 questões de múltipla escolha de leitura ou de matemática. Todos fizeram a redação, que teve como proposta escrever uma carta a um amigo contando sobre as férias.
Os resultados, divulgados por regiões, estão nas escalas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para leitura e matemática. O nível de 175 pontos foi estipulado como a pontuação que representa que o aluno aprendeu os conteúdos exigidos para a série.
Os dados da Prova ABC mostram que há diferenças bruscas entre as regiões do País - em algumas, menos de um terço dos estudantes aprendeu o mínimo. É o caso da Região Norte, onde apenas 21,9% dos alunos das escolas estaduais e municipais cumpriram a expectativa de aprendizado em matemática. No Nordeste, essa taxa é de 25,2% para a disciplina e de 21,3% em escrita na rede pública. "No caso de matemática, que tem a situação mais grave, mesmo a Região Sul, que apresenta a melhor taxa, ainda tem um número baixo: 55% dos alunos aprenderam os conteúdos previstos", exemplifica Ruben Klein, consultor da Cesgranrio.
Ele destaca que mesmo entre as escolas particulares essa diferença regional se impõe. Enquanto a rede privada nordestina teve média de 67,7 - numa escala de 0 a 100, onde o ideal foi considerado o nível 75 -, a rede privada do Sudeste alcançou 96,7 e, a do Sul, 87,5. A nota da Região Nordeste indica que os alunos apresentam deficiências na adequação ao tema e ao gênero do texto, na coesão e na coerência e também possuem problemas de pontuação e grafia.
João Horta, do Inep, acredita que os dados podem servir para a formulação de políticas públicas. "A partir do momento que identificamos as dificuldades, podemos gerar metas para tentar reverter essa situação, que é preocupante", afirma ele, que acredita que a educação integral pode ajudar a solucionar o quadro."
TN
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